Entre o Coração e o Papel: Escrever o Vosso Amor
Escrever o amor… Um trabalho que nem posso muito bem chamar de “trabalho” por ser tão delicioso. “Quem corre por gosto não cansa”, costumam dizer - e parece que é, de facto, verdade!
Eu trabalho com criatividade, inspiração e amor. O que acaba por ser algo muito “abstrato”. Afinal, o que é a criatividade? Como é que surge a inspiração? De onde é que vem? Sou imune ao “bloqueio criativo”? Fico refém da página de word em branco?
Este é o meu processo criativo - e sim, é sempre o mesmo:
Um casal contrata-me e eu fico muito entusiasmada para conhecer a história deles.
Recebo as respostas ao primeiro questionário e penso: “wow, estou completamente em branco, não vai sair nada, nunca vou conseguir escrever uns votos tão bonitos como os últimos” 😶 (pânico).
Uma hora depois de receber as respostas: pensamentos e ideias inundam-me com a velocidade furiosa de um furacão e tudo o que eu consigo fazer é apontar tudo na minha app de notas ou enviar um áudio a mim própria no whatsapp 🥰(normalmente são frases soltas ou parágrafos já mais ou menos formados, mas ainda sem estrutura).
No dia a seguir abro a página do word em branco que fica a olhar para mim como se eu fosse um ET, imediatamente penso “nunca vou conseguir escrever nada que seja tão bom como os últimos votos que escrevi”, “nunca vou conseguir entregar nada” 😔.
Passado 1 dia: “wow não consigo parar de escrever” enquanto já tenho 3 páginas de “votos” que sei que vou ter que cortar para apenas uma ✨✍ (a “magia” finalmente acontece).
Pré-edição: depois de dias a escrever, adicionar ideias e criar-criar-criar, está na hora de começar a rever e fazer a pré da pré da pré edição! Este é o momento em que não consigo desfazer-me de absolutamente nada do que escrevi “tudo é maravilhoso” (mesmo que tenha dito a mesma coisa de 5 formas diferentes em 3 parágrafos distintos).
Edição: esta pré edição continua durante alguns dias até conseguir ser objetiva e imparcial o suficiente com o meu trabalho. Finalmente reduzi as 3 páginas para 1 página de uns votos com princípio, meio e fim e que fazem sentido. Entra o “marcador amarelo” que se transforma em frases ou momentos que não fazem sentido e devem ser cortados/alterados.
Depois envio o primeiro rascunho aos noivos: eles são o meu ponto final de edição. Finalmente um olhar fresco, que não lê a mesma declaração há semanas e que não vai ter problemas em dizer-me o que gosta, não gosta, faz ou não sentido para eles. Aqui respiro de alívio, finalmente tenho um “editor” imparcial que vai avaliar se consegui, ou não, captar os seus sentimentos reais.
Com as alterações e feedback que me dão, está na hora de deixar o meu “ego” de escritora de lado e ser o mais direta possível: aqui vou modificar tudo o que eles me pediram, já que agora tenho uma direção clara e não preciso de ficar no mundo da fantasia e criatividade. A parte da “inspiração” já acabou, passamos aos factos.
E, assim, devagarinho, acabo com votos de casamento que eu acho que são “os melhores que já escrevi” - até aos próximos, claro. Passando sempre pelo medo inicial de nunca conseguir escrever absolutamente nada outra vez.
Então fico, ou não, sentada à espera que a criatividade e a inspiração “batam”?
A resposta é não! Para mim a criatividade é um músculo que deve ser treinado. Quanto mais escrevemos, mais vamos querer escrever e saber como fazê-lo. Mais depressa vamos encontrar “estratégias” para nos “inspirar” quando essa inspiração não aparece como por milagre.
Quanto mais treinarmos esse músculo, mais ele vai crescer e tornar-se algo palpável e mais fácil de usar sempre que precisarmos dele. Por isso sim, eu estou sempre a escrever - nem que seja para mim. Nem que seja na minha “notes app”. Estou sempre a ler, porque isso me ajuda a conhecer novos horizontes e novos estilos de escrita - perspectivas que nunca conheceria de outra forma. Estou sempre atenta a letras de música. frases bonitas ou palavras que quero incorporar nos meus trabalhos.
E, assim, a criatividade e inspiração estão sempre presentes - porque apesar deste trabalho depender muito delas, é também um trabalho que requer disciplina e organização, porque trabalho com prazos. Não me posso dar ao luxo de criar simplesmente quando estou “inspirada”.